quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Um pouquinho de Freud e uma visão filosófica de mundo.




Esse texto existe faz já algum tempo. Resquício de uma cadeira da faculdade. Ele é mais um resumo da experiência de ver, um pouco que seja, de Freud, durante o processo de escritura de uma monografia e, por isso, o entrecruzamento que parecerá um tanto descontextualizado e com um começo abrupto. Entretanto, apesar desses defeitos, achei que ele poderia ser compartilhado e que tenha lá algum valor...

Existe um ponto filosófico nas questões levantadas por Freud, ao qual não pude deixar de fazer atenção.  Se bem entendi, existe uma problemática ética por detrás. De fato, trata-se de uma questão importante porque envolve o conceito de ser humano e o modo como enxergamos nossa essência. O que me intrigou em Freud – se entendi bem –, foi o fato de ele enxergar a racionalidade como um “mal necessário”. Sendo um mal, traz consequências desagradáveis, fruto de uma espécie de mau ajuste entre o querer e o pensar. A cultura, nossa formação, fruto de nossa racionalidade, embora necessária para que vivamos em certa harmonia uns com os outros, contraria, algumas vezes a nossa outra natureza, a saber, a do desejo. Penso agora em um estado de natureza e no caráter trágico de se ser humano. Nós temos que ser racionais, ou seja, sair do estado de natureza, mas para isso entramos em conflito com outra parte de nós que também necessita de realização. Sendo assim, me parece que os Homens estão destinados ao erro, à perturbação, a sensação de um vazio que nunca poderá ser preenchido porque é impossível que atendamos a duas naturezas que pedem uma, o refreamento, a outra o transbordamento.

Esta foi a perspectiva que tive, não sei se correta. Mas, se ela estiver certa, Freud tem uma visão muito negativa de se tornar humano. Um ajuste entre querer e pensar parece de fato quase impossível, dada as interdições originadas da cultura e que são essenciais a uma vida em sociedade.

Entretanto, não creio em uma tragicidade da vida humana. No máximo se trata de um drama, o drama do desenvolvimento do espírito. O caminho para mediar o querer e o pensar é difícil e nem todos conseguem um ajuste perfeito. Ninguém o consegue o tempo inteiro, a vida inteira. O ideal a ser buscado é o ajuste melhor possível, mas esperar perfeição, talvez, seja demais. Não acho, ainda, que sejamos essencialmente destinados ao erro, a irrealização de nossa totalidade e efetivação de nosso ser. Sei que isto é totalmente hegeliano, mas a questão é até emocional:  preciso acreditar que o ser humano é capaz de agir racionalmente e ainda sim saber quando o seu desejo pode e deve ser atendido. Se não for assim, é muito pessimismo e tornaria a relação entre as pessoas extremante difícil, pois, a qualquer momento estaríamos sempre esperando o Erro. Interessante notar que, nessa perspectiva de busca pelo equilíbrio psíquico, algumas vezes cometer um erro acabe sendo benéfico...

Meu argumento para que ambas as esferas do humano possam ser realizadas é simples: a essência deve ser atualizada, para tanto ela deve poder ser realizada, se não puder, não será uma essência, dado que não caracteriza um dado grupo. A razão, sendo uma faculdade superior – ao menos em teoria – deve saber, por si, que ela não é suficiente para determinar um indivíduo. A razão tem que ter consciência de que ela não é a única a pedir uma realização. E, sendo a razão a faculdade que tem capacidade de ter consciência de todo o resto, cabe a ela a percepção do todo que envolve seu ser. Acho, mesmo que a razão sabe que não é suficiente – não sou kantiana, sob esse aspecto –, porque  ela precisa do que cabe ao nosso sentir e querer. Sem estas duas capacidades, o ser humano perde o brilho que há em se ser um ser natural.

Para tornar-se completo, é necessário que o indivíduo tenha consciência de que ele não é apenas querer ou pensar, que ele não pode consumir-se em apenas uma das capacidade. As decisões devem ser pesadas sim, reguladas pelo pensar, mas este, por sua vez, e para seu próprio bem, tem de apreender os desejos e sentimentos. Eu sei, isto não é fácil, mas creio que é possível. Se não o fosse, seríamos seres totalmente ridículos, pois não seríamos capazes, nunca, de nos realizarmos, nem que por pouco tempo, pois estaríamos agindo de acordo com uam essência que não é, de fato, a nossa - isso, para nem colocarmos a questão de qual seria, então, a nossa essência. Felicidade, tranqüilidade, paz de espírito seriam quimeras...

Ora, para usar o argumento freudiano: é fato que há casos de pessoas que dizem já ter sentido todos estes sentimentos, ao menos uma vez, e, se foram capazes é porque é possível. E se é possível, não vejo porque não possamos prolongar a todos os outros.

A questão é ESCOLHER. É assim que este desenvolvimento funciona. Tens que ter consciência que não se pode ter ambos ao mesmo tempo, mas que é possível inserirmos prazer onde há apenas pensar e que é possível ter-se razão nos sentimentos. Isso exige reflexão e sabedoria. Por isso que ser mais bem dotado intelectualmente não quer dizer que se seja bem-resolvido. Trata-se de algo que se faz por intuição, e que levará a razão a principiar a ver a si como uma essência não-única.

Bem, provavelmente disse algumas bobagens, mas faz parte do processo; o importante é diminuir a quantidade delas e o seu peso! E, obviamente, no meio do torvelinho em que algumas vezes somos jogados durante a vida, manter a mente e os sentimentos em ordem, calmos e capazes de atuarem da melhor maneira possível, é uma tarefa bastante difícil. Ser juiz de si mesmo, saber o que se quer, pesar razões e sentir, são tarefas bem mais duras do que qualquer outra atividade humana, ainda mais se esperamos obter êxito. Talvez, devamos considerar que o pensar não precisa cometer uma violência contra o desejo, aquele ajusta este, lhe fornece razões, motivos. Questão de cálculo que se aprenderia com a própria trajetória - e com os erros que, ao ensinarem algo, já não são mais tão errados.


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