Quando é
hora de ir embora? Na etiqueta, esse é um tópico meio delicado, porque envolve
a sua vontade e a vontade do seu anfitrião – caso você mesmo não seja esse
anfitrião. Nem sempre é difícil: há momentos em que se sente, claramente, que a
festa acabou e é hora de se despedir. Mas, às vezes, se quer ficar e se sente
que o anfitrião gostaria que ficássemos mais. O que pode ocorrer é: 1. De fato,
ele pode continuar a ter o prazer da sua companhia; 2. Ele gostaria de ter o
prazer de sua companhia, mas não pode. Ou tu não podes.
Bem, na
verdade, eu não queria falar sobre esse tipo de “ir embora”. Estava pensando no
adeus que se diz quando se encerra um relacionamento. Aliás, sejamos exatos,
estava pensando em como saber quando é a hora de dizer “tchau”. Sim, porque às
vezes, relacionamentos chegam a esse ponto.
Não estou
pensando no namorico dos adolescentes – que sofrem, é verdade – mas que, por
natureza, é efêmero. Nem estou pensando naquelas pessoas que se ligam
esporadicamente apenas por sexo. Não estou falando de namoros, mesmo os firmes.
Estou falando de relacionamentos estáveis há anos, relacionamento onde os dois
já são vistos apenas como uma unidade, dada a sua dinâmica com a sociedade
(amigos, familiares, colegas de trabalho e de estudo). Onde ambos se
acostumaram rotineiramente à presença um do outro, onde eles também veem a si
mesmos como extensões um do outro, e onde o conceito de individualidade se liga
à individualidade alheia – não vamos discutir os limites disso, pense no nível
aceitável e sadio, seja lá qual seja.
Um belo dia,
um deles nota que são mais como companheiros de quarto com privilégios
especiais do tipo que inclui sexo e a autorização para se jogarem xingamentos,
além é claro, de intimidade o bastante para se verem nus em situações
não-sexuais e não darem conta disso. Sabe, falo de casais ditos “normais”.
Nessa rotina, o que de fato os matêm juntos? Se tudo que houver entre eles for
o elencado acima, sinto muito, mas isso são apenas dois estranhos vivendo na
mesma casa. Não são mais um casal. Ou são e, o amor, ou seja lá que sentimento
devesse fazer guarnição a essas duas pessoas, está soterrado por metros do mais
denso tédio, provocado pelo hábito, rotina e companhia contumaz daquele que
deveria ser seu amor.