terça-feira, 18 de novembro de 2014

O ultraje da natureza



Se é uma coisa que me frustra é quando o corpo, graças ao seu funcionamento automático e livre, limita minhas atividades intelectuais.

É o cúmulo que concentre meu dia em direção ao meu âmago, que me encolha ao redor de um único órgão. Ainda mais levando em consideração que esse processo "normal" faça com que eu esteja tão exausta sem ter feito nenhum esforço físico pra isso acontecer.

É uma acinte a minha racionalidade que eu me enrole em posição fetal, que adormeça enquanto leio, a ponto de deixar o livro cair em cima de meu rosto. É o fim que as pessoas me olhem e pergunte se estou bem...

O que devo responder: meu útero simplesmente está num dia ruim, quer chamar a atenção e quer me fazer simplesmente virar apenas um ser fisiológico!

E claro que me mediquei. Mas hoje, eu acho que só com anestesia geral. Tomei em menos de quatro horas duas pílulas cujo composto principal é morfina e cá estou, ainda em dores, sangrando como um animal.



Aliás, minha briga não é com o fato de eu ser um animal, eu sei que sou. Minha revolta é com o fato de estar sendo, nesse momento, só um animal ferido, ferido pelo meu próprio sexo, pela minha condição inata e natural de fêmea. Isso é um ultraje a minha natureza universal de ser humano. Hoje, eu só sou fêmea.