Ultimamente, ando lidando com um tipo curioso. É,
ele brada essas coisas sobre o amor, mas na hora de encarar os desafios que
esse jogo pede, ele medra. Ele quer um amor fácil, um amor na esquina. Um daqueles
encontros míticos, onde a certeza da conquista final, do ficar juntos para sempre
seja certa. Entretanto, usualmente, sempre há obstáculos. Mal comparando é como
o dizer daquela série, “no jogo dos tronos, ou você vence ou morre”. Só que no
amor, não necessariamente a vitória importa, porque viver é o quê importa. Se você
não jogar, você deixa de viver e, se você não vive, você morreu. Ou, de forma
grosseira, tem a ver com aquela única história contada a Fenomenologia do Espírito, na qual a luta das consciências conduz
ou à morte – o jogo acabou para todo mundo –, ou a vitória ou à derrota. Entretanto,
ainda assim, nesse último caso, você pode não se aniquilar, caso perca.
Aliás, a dialética só dá certo se a coisa toda
continuar. Se a relação não se acomodar entre aquele que ganhou e o que perdeu.
Interessante notar que, de fato, quem detém o poder, para que o reconhecimento
se efetive é, justamente, a consciência que perde. Não, não vou defender nenhum
tipo de leitura política aqui, sobre os fracos e oprimidos. A dialética não é
política, ela acontece antes da história, segundo o Hegel, então, esqueçam. Ela
tem um significado muito mais interior, ela quer dizer que o que importa é o
jogo. Mesmo que você perda, essa perda é relativa, porque o outro vai acabar
precisando da sua força.
O reconhecimento e a vitória estão ali, basta não
desistir, não se submeter, tornar a ter coragem, não medrar novamente. É isso
que a consciência que perde no embate deve fazer. Trabalhar, lutar, de uma
forma diferente, agir. A sua ação irá impor-se diante do senhor e fará com que
ele reconheça outra consciência como alguém e não algo. Afinal, só alguém,
aquele que é o quem pode, de verdade, atuar no mundo. Se medrar, a consciência
será escrava, pra sempre. Sem remédio, sem alento, sem reconhecimento.
Alguns dizem, sem amor, mas isso não é mais Hegel.
O mundo é livre e se lhe agrada falar do amor nesses termos, bem, ótimo. Mas não
é Hegel. O amor, em Hegel, enquanto conceito participante da família, já no Espírito
Objetivo é, também, um conceito trabalhado eticamente e que ganha respaldo e
papel justamente por seu caminhar no mundo. Ele não teve a importância imediata,
como mero sentimento, mas como um trabalho dos humanos na sua aceitação e colocação
de lugar no mundo.
Enfim, voltando à luta e para falar de amor. Esse sentimento,
às vezes, também demanda sacrifícios. Ele não vem pronto, ele não é automático e,
muito menos, nos dispensa de alimentá-lo. E, pior, às vezes, antes de vivê-lo, as
pessoas têm de esperar e lutar e esperar e lutar e chorar. Eis que, nesse
momento, podemos dizer que existem consciências escravas, consciência medrosas.
Elas desistem, em algum ponto.
Algumas, ao menor sinal de dificuldade, param. Hesitam
e não avançam. Perdem a oportunidade. Deixam escapar, calam. Elas nem mesmo
tentam. Simplesmente desistem por medo de perder. E, eu me pergunto: o que é a
vida, se não esse eterno tentar ser feliz, tentar alcançar o que achamos que
nos fará feliz? Sério, nem mesmo vão dizer que amam, por medo? Por receio? Por
que não devem? Deixem que o outro lhes diga isso. Deixe que o outro, que vocês
dizem que amam, compartilhe desse fardo. Deixe que ele lhes ajude, se for o
caso. Porém, não se omitam.
Temos outro caso: aqueles que começam o jogo e...
medram! Sim, senhores e senhores, há pessoas que começam o jogo e, de repente,
o abandonam. Simples assim. Algumas, porque entrevêem dificuldades que não
tinham visto, outras – e essas, são piores – porque de repente, dão-se conta de
uma dificuldade que sempre estivera lá. Ora, o que nessa maldita existência não
tem suas dificuldades? Veja bem, não é o empecilho de amor não correspondido
pois, nesse caso, nem sequer teríamos iniciado os jogos. Estou falando daqueles
que, além de trazerem malogro a si, conduzem o outro, pelo qual eles se dizem
apaixonados, ao pântano de suas indecisões, de seus medos. O mais importante
deixa de ser o sentimento recíproco e se torna o medo. O medo de um único indivíduo.
É certo que medo todos nós sentimos. Ele nos paralisa.
Mas, deixar que esse seja o principal sentimento, isso, meus caros, isso é se
recusar a nos tornar humanos. É nos negarmos a agir, a lutar, a efetivar isso
que vai nos nossos corações. Isso nos rebaixa aos animais que medram diante das
dificuldades. Aliás, os animais não medram quando o instinto os impele. Medraremos
nós, quando um sentimento nos chama?
Pensem nisso.