A
garotinha olhava para o céu: Luminoso e amplo. Seus olhos já pequenos
convertiam-se em apenas dois pequenos riscos, encimados por pestanas negras.
Olhava o céu na esperança que chovesse. Não choveria. Nem sequer nuvens havia naquele
céu infinitamente azul.
As
cigarras cantavam alto, o calor oprimia. O sol brilhava e, mais, tremeluzia. Ao
redor, apenas um chão acarpetado de amarelo, amarelo-queimado.
Ela
olhava para o céu. A mãe gritou, perguntando porque ainda não tinha ido ver se
havia ovos. A menina baixou os olhos, ainda marejados de lágrimas forçadas pela
luz. Gritou de volta, que já ia. Olhou mais uma vez para o céu azul... E se ela
furasse o céu? Ora, a chuva vinha do céu e, então, a água devia estar presa
naquela barreira infinitamente azul, tão azul quanto os olhos do avô.
A
menina pegou o cesto e, enquanto percorria o caminho até o galinheiro,
ensimesmada, espiava o céu, seu antagonista. Afinal de contas, pensava ela, a
água vinha do céu e lá devia estar presa por aquela barreira azul. Se furasse o
céu, a água verteria e seus pais poderiam plantar a terra e os animais
voltariam a beber do açude. O rio subiria – estava tão raso que ninguém mais se
preocupava em impedir que as crianças para lá corressem, no meio da tarde, para
encontrar algum alívio do calor sufocante.