sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O jogo dos tronos, a dialética do amo e do criado e o amor: reconhecimento e medo




Ultimamente, ando lidando com um tipo curioso. É, ele brada essas coisas sobre o amor, mas na hora de encarar os desafios que esse jogo pede, ele medra. Ele quer um amor fácil, um amor na esquina. Um daqueles encontros míticos, onde a certeza da conquista final, do ficar juntos para sempre seja certa. Entretanto, usualmente, sempre há obstáculos. Mal comparando é como o dizer daquela série, “no jogo dos tronos, ou você vence ou morre”. Só que no amor, não necessariamente a vitória importa, porque viver é o quê importa. Se você não jogar, você deixa de viver e, se você não vive, você morreu. Ou, de forma grosseira, tem a ver com aquela única história contada a Fenomenologia do Espírito, na qual a luta das consciências conduz ou à morte – o jogo acabou para todo mundo –, ou a vitória ou à derrota. Entretanto, ainda assim, nesse último caso, você pode não se aniquilar, caso perca.
Aliás, a dialética só dá certo se a coisa toda continuar. Se a relação não se acomodar entre aquele que ganhou e o que perdeu. Interessante notar que, de fato, quem detém o poder, para que o reconhecimento se efetive é, justamente, a consciência que perde. Não, não vou defender nenhum tipo de leitura política aqui, sobre os fracos e oprimidos. A dialética não é política, ela acontece antes da história, segundo o Hegel, então, esqueçam. Ela tem um significado muito mais interior, ela quer dizer que o que importa é o jogo. Mesmo que você perda, essa perda é relativa, porque o outro vai acabar precisando da sua força.
O reconhecimento e a vitória estão ali, basta não desistir, não se submeter, tornar a ter coragem, não medrar novamente. É isso que a consciência que perde no embate deve fazer. Trabalhar, lutar, de uma forma diferente, agir. A sua ação irá impor-se diante do senhor e fará com que ele reconheça outra consciência como alguém e não algo. Afinal, só alguém, aquele que é o quem pode, de verdade, atuar no mundo. Se medrar, a consciência será escrava, pra sempre. Sem remédio, sem alento, sem reconhecimento.
Alguns dizem, sem amor, mas isso não é mais Hegel. O mundo é livre e se lhe agrada falar do amor nesses termos, bem, ótimo. Mas não é Hegel. O amor, em Hegel, enquanto conceito participante da família, já no Espírito Objetivo é, também, um conceito trabalhado eticamente e que ganha respaldo e papel justamente por seu caminhar no mundo. Ele não teve a importância imediata, como mero sentimento, mas como um trabalho dos humanos na sua aceitação e colocação de lugar no mundo.
Enfim, voltando à luta e para falar de amor. Esse sentimento, às vezes, também demanda sacrifícios. Ele não vem pronto, ele não é automático e, muito menos, nos dispensa de alimentá-lo. E, pior, às vezes, antes de vivê-lo, as pessoas têm de esperar e lutar e esperar e lutar e chorar. Eis que, nesse momento, podemos dizer que existem consciências escravas, consciência medrosas. Elas desistem, em algum ponto.
Algumas, ao menor sinal de dificuldade, param. Hesitam e não avançam. Perdem a oportunidade. Deixam escapar, calam. Elas nem mesmo tentam. Simplesmente desistem por medo de perder. E, eu me pergunto: o que é a vida, se não esse eterno tentar ser feliz, tentar alcançar o que achamos que nos fará feliz? Sério, nem mesmo vão dizer que amam, por medo? Por receio? Por que não devem? Deixem que o outro lhes diga isso. Deixe que o outro, que vocês dizem que amam, compartilhe desse fardo. Deixe que ele lhes ajude, se for o caso. Porém, não se omitam.
Temos outro caso: aqueles que começam o jogo e... medram! Sim, senhores e senhores, há pessoas que começam o jogo e, de repente, o abandonam. Simples assim. Algumas, porque entrevêem dificuldades que não tinham visto, outras – e essas, são piores – porque de repente, dão-se conta de uma dificuldade que sempre estivera lá. Ora, o que nessa maldita existência não tem suas dificuldades? Veja bem, não é o empecilho de amor não correspondido pois, nesse caso, nem sequer teríamos iniciado os jogos. Estou falando daqueles que, além de trazerem malogro a si, conduzem o outro, pelo qual eles se dizem apaixonados, ao pântano de suas indecisões, de seus medos. O mais importante deixa de ser o sentimento recíproco e se torna o medo. O medo de um único indivíduo.
É certo que medo todos nós sentimos. Ele nos paralisa. Mas, deixar que esse seja o principal sentimento, isso, meus caros, isso é se recusar a nos tornar humanos. É nos negarmos a agir, a lutar, a efetivar isso que vai nos nossos corações. Isso nos rebaixa aos animais que medram diante das dificuldades. Aliás, os animais não medram quando o instinto os impele. Medraremos nós, quando um sentimento nos chama?
Pensem nisso.

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