Uma manhã qualquer, numa capital
qualquer desse país, duas pessoas encontram-se. Esse encontro é inédito, porque
irá definir não só duas vidas, mas as vidas de outras pessoas que sequer
imaginam a existência desses dois. Como várias coisas na vida, nós achamos que
jogamos sozinhos, nós achamos que vivemos e agimos sozinhos, porém de verdade,
nós só nascemos e morremos sozinhos.
Um café qualquer, numa rua movimentada
qualquer dessa capital. Pessoas ocupadas, sonolentas ou que apenas precisam
passar o tempo. Menos essas duas pessoas. Elas estão fazendo tudo isso ao mesmo
tempo, só que diferente de todos os outros: estão ocupadas uma com a outra, estão
passando o tempo uma com a outra, estão entorpecidas pela presença uma da outra.
O barulho, as pessoas ocupadas, sonolentas, sugadas pela rotina não existem. O garçom
existiu apenas no tempo suficiente empregado em ouvir os pedidos e trazê-los. Logo
depois, nem mesmo os cafés – um expresso duplo e um capuccino – pareceram importante:
esfriarão, desprezados, esquecidos, mesmo que o cheiro lembre as suas existências
e tenha perpassado e inebriado esse encontro.
Olhos nos olhos. Sorrisos discretos,
acanhados.