quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Fragmentos de um dia...

Outro dia luminoso na capital gaúcha. Levantei meio tarde, mas mais cedo que alguns, com certeza. Tomei meu shake e vim para o computador. Ótimo, no meio do meu "surf" na net, de um texto a ser decorado, sou lembrada de que tenho de terminar um artigo.
É, eu prometi um artigo e esqueci. Agora, deveria estar escrevendo o dito-cujo, mas não, estou aqui para dizer que fui fazer uma xícara de chá inglês. Eu tenho meus pequenos luxos! 
De repente, dei-me conta que na estante acima, misturei o Francesco Alberoni com o Jean Wahl e, com o Hegel. Ainda tem algo sobre Sófocles, Antígona e filosofia política. Eu sempre acho que minha mesa de trabalho é insuficientemente grande para tudo que gostaria de deixar espalhado...
Meu ideal de estudos, no fim, é aquele de espraiar vários livros abertos, numa anarquia de relações e visões... Eu sempre acho uma ligação, um contexto e subcontexto para dizer que há algo mais naquilo que parece ser menos.
Nessas, indo e vindo, acompanho o Twitter. Tem alguém sofrendo por lá. Claro, sofrendo de acordo com um tema universal: o amor. Não sei os detalhes, não sei se era um relacionamento ou se era o ensaio. Porém, a pessoa saiu sentindo-se ferida. É tudo que sei, é tudo que vejo.
Cá entre nós, todo mundo tem suas feridas sentimentais. Todo mundo sempre sente falta de algo. Eu sinto.
O quão importante é essa falta? Ela é essencial ou é só um desejo de sair de uma rotina? Ou, a rotina não é nada daquilo que fora imaginado? Ou ela é simplesmente insuportável?

terça-feira, 13 de novembro de 2012


É uma manhã ainda fresca e luminosa em Porto Alegre. O trem movimenta-se com seu ruído característico. Dentro do vagão, Há lugares vagos.
O banco para idosos, deficientes, gestantes, obesos, mulheres grávidas, azul, está vazio à frente de Luís. Ele tem um livro fechado sobre as pernas, mas ao se sentar, perdeu o interesse nas letras e observou o movimento tranquilo e rápido das paisagens urbanas e do Guaíba.
Ele só vai descer na penúltima estação e espera estar dentro da biblioteca, sob o abrigo do ar-condicionado, antes que o sol cumpra o que promete com seu brilho cegante.
Predominam as sandálias e rasteirinhas nos pés das mulheres, tênis nos dos homens. A maioria, com fones nos ouvidos e, ele, com o livro fechado sobre as pernas.
Um senhor entra e encontra o assento reservado a ele vazio. Senta-se, satisfeito com sua sorte, embora existam outros assentos vazios. Ele encara Luís e seu livro fechado.
Ele não tem um livro, não tem fones de ouvidos, nem sandálias, nem rasteirinhas, nem tênis: ele tem chinelos e uma mão fechada enfaixada.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Sinais da idade, sinais dos tempos...



Hoje, estava pensando sobre a luta incessante que algumas mulheres travam contra os sinais da idade. Pensava nisso por ocasião da minha primeira compra de um creme anti-idade.

Confesso que já pensava nessa compra há algum tempo: pele branca e fina, marcas de expressão por causa do sol – ‘tá, eu sei, um óculos escuro ajuda a resolver, mas, não gosto e, agora, míope, nem pensar.

Resolvi-me depois de que a segunda prima minha iniciou seu tratamento, sendo essa, praticamente, dois anos mais nova (a outra prima que iniciara o tratamento é pouco mais velha do que eu).

Fiquei pensando na pressão que todas sofremos pra sermos sempre belas e jovens. Pensei nessa pressão como algo advindo do externo e sendo, posteriormente, internalizada. Até aí, nenhuma novidade: todas nós já ouvimos falar que a mídia e seus ícones (ou modelos), a desvalorização da internalidade pela prevalência do externo e outras versões desse discurso...
Todavia, pretendo dizer que a questão é mais complexa – oh, que novidade! O que mudou é que a juventude deixou de ser a época marcante de nossas vidas. Antigamente (não tão antigamente...) casávamos jovens e nossos retratos de casamento, além de paralisarem nossa felicidade, também guardavam nossa fulgurante juventude. E se fôssemos mulheres mais modernas (casadas ou não) nossas fotos de formatura também eram expressão de uma juventude vencedora. Depois disso, ainda tínhamos seis ou sete anos de fulgurosa beleza, daquele brilho juvenil (com ou sem filhos), de qualquer maneira, a mãe feliz e jovem com seu mais jovem filho.

Eis que agora as coisas não são tão jovens. Formamo-nos. Achamos um emprego, esperamos nos estabilizarmos e, depois, casamos e temos filhos. Ou, então, nos formamos, trabalhamos e vamos fazer um pós. Depois trabalhamos e, daí, a estabilidade. Procuramos um parceiro, casamos e temos filhos. De qualquer forma, existe sempre uma palavra, expressão do nosso anseio pelo melhor: ESTABILIDADE. Financeira, preponderantemente. E isto, por causa do mercado e suas exigências. Desse modo, filhos antes dos 30 anos parecem impossíveis, assim como casamento e uniões.

Assim, nossos momentos mais marcantes como seres humanos adultos são jogados para o nosso momento corporal do início da decadência: nossa expressão por mais feliz que seja, não será acompanhada do fulgor da juventude, do momento de êxtase do nosso corpo. Por este motivo, parecerá que nosso corpo se torna menos capaz de mostrar, por si, nossa alegria, nossa felicidade, nossa juventude perante fatos felizes de nossas vidas.
Queremos estar bonitas e bem quando pudermos, finalmente, gozar dos frutos do nosso trabalho. Não queremos aquela imagem de uma pessoa de meia-idade (e já os sinais do tempo), que finalmente viaja, anda com seu carro e vive em sua casa. O creme não serve para parar o tempo, afinal, não sejamos insensatas, o tempo não pára, mas para nos dar mais tempo de conjugar a beleza da nossa felicidade com a beleza do nosso corpo.