segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Do não dito.

Dizem que quem cala, consente. Verdade. No meio de uma discussão  alguém atira uma acusação ao outro. Se esse calar, há verdade na acusação  A não ser que o acusado esteja tão cansado e ache tão ultrajante, que nem ao menos se digne a responder, a contra-atacar. Entretanto, só de olhar para o rosto do acusado, o acusador vai saber que foi injusto, nesses casos.
Calar, porque se consente é um dos momentos mais fortes de uma discussão ou, mesmo, de uma conversa franca e calma. Significa que o outro deveria saber. Que é justo que saiba. Que não se pode mentir. Que não se consegue. Calar é dizer a verdade sem gritos. Mas é uma explosão de sinceridade.
O não-dito também pode ser uma omissão. Ah, agora o terreno torna-se instável, moralmente. Não se trata de sinceridade. Pode querer dizer até, proteção.  Proteger o outro de uma verdade que ele não está pronto para ouvir, ou que não é necessário que ouça.  Claro, quem tu és para saber o que o outro deve, ou não, ouvir?
As pessoas tem justificativas para suas omissões. A questão é se é essencial que o outro saiba. Ele precisa saber, ele tem de saber? Saber disso vai mudar algo? Omitir evitará um sofrimento desnecessário? São perguntas cabíveis  Claro, uma pessoa com uma visão de mundo mais estreita sobre o certo e o errado, com mais dificuldades em ver as nuances que escolhas morais tem, em suas particularidades, poderia dizer que omissão sempre é um tipo de mentira que não contamos porque o outro não nos deu oportunidade.

Ao mesmo tempo, o não dito significa. Quando nada mais é dito, quando o calar não é expressão do consenso, quando se torna um hábito, muito está sendo dito.
O calar é expressão de tristeza, quando o ser que cala não costuma ser calado. Numa relação a dois, além de tristeza, pode ser apatia. Ah, e isso é perigoso. Uma relação intermediada pela apatia perde o viço. Perde o calor. Perde uma forma importante de expressão e entendimento. Claro, muito é dito por gestos e através dos olhos. Se o outro anda anormalmente calado, cabe que lhe observemos.
Outro problema é quando o não dito deveria ter sido dito. Ou quando o dito fica pelo não-dito. No primeiro caso, a responsabilidade é daquele que cala. Daquele, justamente, que se tem algo a ser dito, deve estar com algum problema - mesmo que seja imaginário, ele tem algo que precisava ter sido expresso. No segundo caso, a responsabilidade recai sobre aquele a quem o dito é dirigido. Pode ser que nem seja algo que seja sobre ele, porém, de qualquer modo, ignorar a palavra de alguém que se dirige a ti, pode ser sinal de que além daquele problema que o receptor da palavra ignorou, ainda há o problema das razões pelas quais se ignorou o dito.
Em ambos os casos, há algo que não vai bem. Por que se calou aquilo que deveria ter sido dito? Aliás, importante ressaltar, aquilo que aquele que queria ter dito calou. Não estamos mais falando daquilo que deveria ter sido dito em prol daquele que escuta e que o que deveria falar, achou melhor calar. Estamos falando daquilo que o falante julgava dever ter dito. No segundo caso, é evidente que temos um problema. Ignorar a fala do outro é ignorar o outro. Propriamente falando, não se trata de um não dito, claro. Entretanto, o objetivo da fala é atingir o outro, tornar externo algo que vai na interioridade da pessoa, logo, não faz sentido que uma fala seja ignorada pelo receptor.
Disso tudo, podemos ver que a ausência tem muito significado. A negação de uma ação significa algo. Não fazer significa algo. No silêncio, muito está sendo dito. E, então  o não dito se torna dito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário