quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Quando cruzamos com Werther...



Cruzei com Werther hoje. Não, não uma pessoa, embora eu saiba que ele era, na medida do possível, pessoa. Falo do livro.

Na verdade, fui lembrada da existência dessa história. Não vou chamá-la de trágica, porque meu conceito de trágico não engloba algo do qual se poderia escapar. Sei, é uma definição estreita do que seja “trágico”, mas ajuda na compreensão do mundo, e de quando, de fato, ele nos impõe escolhas das quais não podemos fugir e, desse modo, torna nossas ações determinadas por uma conjuntura.

Voltando ao Werther, devo dize que o conheci faz já um bom tempo. Não me lembro mais dos detalhes, mas me lembro que ele morre. Morre de amor, de paixão. Vítima de seu próprio pathos, de seu próprio egoísmo e amor-próprio.

Alguém pode me perguntar como, ao se matar, Werther poderia estar sendo egoísta e ter como carrasco o seu amor-próprio? Explico.

Werther se apaixona, como é comum a todos os rapazes de sua idade. A moça talvez o amasse, mas a verdade é que ela é comprometida e resiste às investidas de Werther. Ele, então, sucumbe a si mesmo. Ele não se reforça e não se esforça diante do inevitável: sofrer um não. Um não direto. Um não, aquela palavra de que cedo aprendemos, pelo bem ou pelo mal o significado.

O romance é epistolar, mas nós não temos outras cartas além das do próprio Werther. Isso já nos coloca ao lado do personagem título, pois tudo que temos é o seu ponto de vista (muito embora, eu deva admitir que, ainda hoje, tenho a sensação de que tinha verdadeira vontade de esbofeteá-lo durante a leitura – Madama Bovary também me rendeu acessos de violência, mas hoje tendo a ser mais compreensiva com ela). Nós, seres humanos, temos tendência a nos compadecer de quem expressa seu sofrimento e, tendo tão somente o seu sofrimento, nos compadecemos somente de Werther, daquilo que nos parece seu destino.

E isso porque, quando amamos, de modo desenfreado – mas eu temo que isso seja paixão e, não, amor – nos tornamos presa de nós mesmos, de nossos sentimentos. Redemoinhamos. Quando muito, orbitamos ao redor do ser amado, nossa estrela, nosso astro. Centramo-nos no que queremos e vemos nisso O objetivo. Único capaz de nos realizar, de dizer quem nós somos. Numa situação dessas, como podemos ver uma alternativa? Como não nos vermos vítimas de um “destino” que teima em não se realizar? Eis o problema.

Assim são com as dores do coração, aquelas que não passam, a despeito de um longo tempo. São dores que nós mesmos alimentamos, primeiro, porque o baque foi tão grande que tudo aquilo se tornou nosso único pensamento, nosso único motivo de reflexão. Depois, vem a autopiedade. E é tão reconfortante pensar em como somos infelizes e o resto da humanidade tão feliz! Encontramos desculpas para todos serem mais felizes do que nós – mesmo que o outro seja um pobre mendigo bêbado! E, nessa cegueira da inveja, não vemos os motivos pelos quais nós poderíamos ser felizes, mesmo que não tendo mais aquele amor.

Werther faz isso. Julga-se a criatura mais triste e azarada desse mundo. Esquece que ele mesmo provocou dores a um coração alheio – em sua primeira carta encontramos menção a isso. Incapaz de lidar com a negativa de sua amada, incapaz de ver-se fora do torvelinho do desprezo amoroso, ele se centra em si mesmo, em sua imensa e infinita dor. Tão infinita e tão sem solução que, nesse mundo, para ele, não existe remédio. Aliás, nesse mundo haveria um remédio: deixar esse mundo.

Escapar fisicamente da dor não é novidade como método de cura para dores do coração. O problema básico é que não existe isso de fugir fisicamente da dor, porque ela está em ti, não no lugar. Claro, não rever o ser amado ajuda, mas tu podes estar a quilômetros de distancia da causa de tua dor e, por exemplo, lembrar a malfadada paixão por causa de um perfume, da cor de um cabelo, do jeito como alguém se esforça por ver algo... Enfim, a dor carregada faz com que a lembrança do ser amado retorne, sempre.

A solução está dentro de cada um, forjada pela vontade de ter uma nova postura, novos projetos e, quem sabe, até um novo amor. Mas, isso tudo não pode ser apenas “de fachada”: porque nesse caso, tu vais ver o teu amor até no chiclete grudado no teu sapato!

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