E passa o que deve passar...
Só não passa aquilo que não deixamos
passar, sem permissão para nos transpassar e, assim, nos atravessar e se ir...
Ficando, então, não apenas no passado, mas também já distante do coração.
“O que os olhos não veem o coração não
sente”, já diz o batido ditado. Entretanto, nós temos muitas maneiras de tornar
a ver aquilo que não deveríamos mais olhar e, para isso, nem precisamos dos
olhos – essa janela para a alma...
Há outras maneiras de deixar entrar: um
perfume, uma palavra, um gosto. Qualquer dessas coisas traz recordações à
mente.
Então, nem longe do coração estará uma
lembrança mal-amada, que não aparece aos olhos... Temos outros quatro sentidos
bem aptos a nos fazer remoer...
O esforço é o do negativo: deixar
passar, mas sabendo que ao deixar passar essa amaldiçoada e maldita lembrança,
ela tornar-se-á de novo presente. Novamente ocupara o nosso tempo, novamente
imporá seu jugo, nos fazendo nostálgicos.
É nesse momento de sua reapresentação
que devemos reagir e não antes. Se o fizermos antes, a recordação irá persistir
em se fazer presente, como que forçando a porta – ou a janela! Nós a negaremos,
ela retornará, talvez até com mais força. Como se estivéssemos afogando alguém,
a lembrança irá tornar a emergir buscando fôlego e, no esforço de matá-la,
aniquilá-la, seremos nós que ao final estaremos ofegantes e abalados.
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