domingo, 10 de março de 2013

O caminho do meio e o fim do caminho: enamoramento



Eu ando lendo Alberoni. Não digo que concorde com tudo aquilo que diz, tanto sobre o erotismo feminino quanto masculino. Porém, há coisas válidas nesse tipo de leitura, da qual não concordamos integralmente ou, até, discordamos. Por exemplo, sobre o encontro de amantes, ele tem algumas asserções bastante interessantes e capazes de fazer pensar. Lá pelas tantas, ele diz que o (a) amante é um refúgio do mundo. É um momento de isolar-se com o outro, o momento – ou deveria ser – do exercício do puro erotismo. Para lá da entrega, existe o não-existir além daquele lugar de encontro. Nada há mais no mundo do que o outro e aquele momento com o outro.

O autor falava na verdade, do amante enquanto “categoria” social. No entanto, isso não exclui aqueles que se encontram no estado de “amantes”: ou seja, aquele momento de enamoramento de ânsia e prazer de estar junto daquele que amamos ou por quem nos apaixonamos.

A partir disso, também lembrei que, ao falar sobre os amantes, ele disse o quão importante é esse isolamento e esse prazer. Ele afirmou que aos amantes não cabem nem as preocupações do dia-a-dia nem nada além desse querer-se, desse desejar encerrado no encontro amoroso. Sim e não. Há amantes que julgam poderem viver, enfim, fora da clandestinidade e, a partir desse momento, formam uma aliança muito mais ampla que os limites da cama. Para outros, essa descrição é correta.

No entanto, o que me fez escrever não foi isso. Lembrei, ao mesmo tempo, da sensação de enamoramento – essa mesma sensação que nos tira do mundo, do mesmo modo que os amantes descritos por Alberoni se retiram do mundo para se entregarem ao mútuo prazer. A sensação de enamoramento nos “alheia” do mundo. Ela é muito próxima dessa atração existente entre amantes. Mal comparando, o enamoramento se nutre também desse prazer do outro. Ao nutrir-se desse prazer, o enamoramento tem sua vida dependente da capacidade de se ter mais alegrias do que sofrimento. O que quero dizer: o enamoramento é algo forte mas leve. Amplo e limitado. E sua vida enraíza-se na capacidade de beber do prazer, da alegria de estar com e no outro.

E, vocês sabem quando o enamoramento acaba? Quando ao beber da fonte, se engole mais sofrimento do que alegria, mais dor do que prazer. Não há encantamento que resista a uma balança em que pese mais o desprazer.

O enamoramento é o caminho que liga o gostar com a atração. É o caminho do meio. Por isso, muitas relações se prolongam, mesmo tendo acabado o “enamoramento”. E elas prosseguem em meio à dor, ao sofrimento. Porque se gosta e se deseja, mas não há mais magia nem descanso. Apenas o tormento.

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