Eu
ando lendo Alberoni. Não digo que concorde com tudo aquilo que diz, tanto sobre
o erotismo feminino quanto masculino. Porém, há coisas válidas nesse tipo de
leitura, da qual não concordamos integralmente ou, até, discordamos. Por
exemplo, sobre o encontro de amantes, ele tem algumas asserções bastante
interessantes e capazes de fazer pensar. Lá pelas tantas, ele diz que o (a)
amante é um refúgio do mundo. É um momento de isolar-se com o outro, o momento
– ou deveria ser – do exercício do puro erotismo. Para lá da entrega, existe o
não-existir além daquele lugar de encontro. Nada há mais no mundo do que o
outro e aquele momento com o outro.
O
autor falava na verdade, do amante enquanto “categoria” social. No entanto,
isso não exclui aqueles que se encontram no estado de “amantes”: ou seja,
aquele momento de enamoramento de ânsia e prazer de estar junto daquele que
amamos ou por quem nos apaixonamos.
A
partir disso, também lembrei que, ao falar sobre os amantes, ele disse o quão
importante é esse isolamento e esse prazer. Ele afirmou que aos amantes não cabem
nem as preocupações do dia-a-dia nem nada além desse querer-se, desse desejar encerrado
no encontro amoroso. Sim e não. Há amantes que julgam poderem viver, enfim,
fora da clandestinidade e, a partir desse momento, formam uma aliança muito mais
ampla que os limites da cama. Para outros, essa descrição é correta.
No
entanto, o que me fez escrever não foi isso. Lembrei, ao mesmo tempo, da
sensação de enamoramento – essa mesma sensação que nos tira do mundo, do mesmo
modo que os amantes descritos por Alberoni se retiram do mundo para se
entregarem ao mútuo prazer. A sensação de enamoramento nos “alheia” do mundo. Ela
é muito próxima dessa atração existente entre amantes. Mal comparando, o
enamoramento se nutre também desse prazer do outro. Ao nutrir-se desse prazer,
o enamoramento tem sua vida dependente da capacidade de se ter mais alegrias do
que sofrimento. O que quero dizer: o enamoramento é algo forte mas leve. Amplo e
limitado. E sua vida enraíza-se na capacidade de beber do prazer, da alegria de
estar com e no outro.
E,
vocês sabem quando o enamoramento acaba? Quando ao beber da fonte, se engole
mais sofrimento do que alegria, mais dor do que prazer. Não há encantamento que
resista a uma balança em que pese mais o desprazer.
O
enamoramento é o caminho que liga o gostar com a atração. É o caminho do meio. Por
isso, muitas relações se prolongam, mesmo tendo acabado o “enamoramento”. E elas
prosseguem em meio à dor, ao sofrimento. Porque se gosta e se deseja, mas não
há mais magia nem descanso. Apenas o tormento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário