Eu não sei vocês, mas sempre tive medo
da expressão “sentido existencial”. Sei lá, sempre me pareceu pesada, grandiosa
demais, pretensiosa. Como se as pessoas tivessem a obrigação, o dever, de
fazerem grandes coisas, grandes sacrifícios em prol... em prol de que mesmo? Em
prol dos outros. Em prol do “amor oceânico”. Não que desacredite totalmente. Só
acho que não é para todo mundo, esse negócio de sentido existencial.
Algumas poucas pessoas são capazes de
atingir o que imagino, seja o grau adequado de sentido que a expressão esconde.
O mais interessante é que não acho que essas poucas pessoas, capazes de atingir
o grau de pretensão embutido na expressão, sejam pretensiosas: pelo contrário,
elas pensaram apenas em fazerem algo bom, não em atingir uma plenitude de
sentido para suas vidas. Sem pretensão de dar sentido às suas vidas, mas às
vidas dos outros. Quase sem querer.
Entretanto, as coisas mudam de figura
quando pretendemos que essa expressão dirija as nossas vidas. As nossas
pequenas e insignificantes vidas. Aí damos mais um sentido do que de fato há em
nossas vidas. Superestimamos e, por isso, erramos.
Porque querer que nossas vidas tenham um
sentido existencial quando, na verdade, temos de cuidar de nossas próprias
vidas, da labuta diária, é pretender muito mais do que realmente podemos. Nós não
podemos nos abandonar, não podemos abdicar de nós mesmos, pois somos presas da
roda da vida.
Mas, então, seremos mesquinhos e
tacanhos?
Não. Só não podemos ser pretensiosos. Não
podemos salvar o mundo pois, antes, temos de salvar nossas próprias vidas.
O que podemos fazer? Nada de “sentido”,
nada muito “existencial”. Podemos fazer um trajeto sincero, honesto. Podemos ajudar
quando podemos. Sim, pois isso é muito mais do que muitos de nós fazemos, uma
vez que é comum nem mesmo ajudar quando podemos.
Ser atentos, ter uma palavra amiga de
incentivo ou de força, para quem estiver conosco, precisando. Podemos ir
levando nossas vidas, de forma objetiva. Escutar aquele amigo chato nos
intervalos. Dar um sorriso e dizer obrigada. Cumprimentar o faxineiro, o
porteiro. Dizer oi ao desconhecido que nos diz bom dia. Dar um abraço, quando
as palavras não confortam ou quando as palavras não são suficientes. Beijar. Respirar
profundamente antes de dar um sermão – afinal, nem sempre o bem vem de palavras
agradáveis; por isso, nos fará dizer palavras duras com firmeza, mas sem raiva
ou agressividade.
Permitir-nos a alegria, uma vez que a
felicidade é mais rara. Nos darmos o direito à tristeza, porque nem sempre a
vida sorri. Mas, nos comprometermos a, no dia seguinte, sermos menos tristes. Apoiar
os sonhos dos outros, pois isso nos dignifica e simplifica a vida. Saber se
afastar, sem ódio e nem rancor, de quem nos faz mal. Esquecer...
Bem, no fim, sentido existencial é
justamente só um sentido. Não é o
caminho. É uma direção com várias possibilidades. É mais um prosseguir
constante, interrompido por pequenas paradas para dar sentido, tino, aos
outros. É estar lá, quando necessário, mas só o suficiente. É no caminho, saber
cheirar as flores, desviar das poças de água, espantar-se com os diferentes
tons de verde, observar o caminho e desfrutar dele. Eis um sentido para a existência.
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