Hoje, estava pensando sobre a
luta incessante que algumas mulheres travam contra os sinais da idade. Pensava
nisso por ocasião da minha primeira compra de um creme anti-idade.
Confesso que já pensava nessa
compra há algum tempo: pele branca e fina, marcas de expressão por causa do sol
– ‘tá, eu sei, um óculos escuro ajuda a resolver, mas, não gosto e, agora,
míope, nem pensar.
Resolvi-me depois de que a
segunda prima minha iniciou seu tratamento, sendo essa, praticamente, dois anos
mais nova (a outra prima que iniciara o tratamento é pouco mais velha do que
eu).
Fiquei pensando na pressão que
todas sofremos pra sermos sempre belas e jovens. Pensei nessa pressão como algo
advindo do externo e sendo, posteriormente, internalizada. Até aí, nenhuma
novidade: todas nós já ouvimos falar que a mídia e seus ícones (ou modelos), a
desvalorização da internalidade pela prevalência do externo e outras versões
desse discurso...
Todavia, pretendo dizer que a
questão é mais complexa – oh, que novidade! O que mudou é que a juventude
deixou de ser a época marcante de nossas vidas. Antigamente (não tão
antigamente...) casávamos jovens e nossos retratos de casamento, além de
paralisarem nossa felicidade, também guardavam nossa fulgurante juventude. E se
fôssemos mulheres mais modernas (casadas ou não) nossas fotos de formatura
também eram expressão de uma juventude vencedora. Depois disso, ainda tínhamos
seis ou sete anos de fulgurosa beleza, daquele brilho juvenil (com ou sem
filhos), de qualquer maneira, a mãe feliz e jovem com seu mais jovem filho.
Eis que agora as coisas não são
tão jovens. Formamo-nos. Achamos um emprego, esperamos nos estabilizarmos e,
depois, casamos e temos filhos. Ou, então, nos formamos, trabalhamos e vamos
fazer um pós. Depois trabalhamos e, daí, a estabilidade. Procuramos um
parceiro, casamos e temos filhos. De qualquer forma, existe sempre uma palavra,
expressão do nosso anseio pelo melhor: ESTABILIDADE. Financeira,
preponderantemente. E isto, por causa do mercado e suas exigências. Desse modo,
filhos antes dos 30 anos parecem impossíveis, assim como casamento e uniões.
Assim, nossos momentos mais
marcantes como seres humanos adultos são jogados para o nosso momento corporal
do início da decadência: nossa expressão por mais feliz que seja, não será
acompanhada do fulgor da juventude, do momento de êxtase do nosso corpo. Por
este motivo, parecerá que nosso corpo se torna menos capaz de mostrar, por si,
nossa alegria, nossa felicidade, nossa juventude perante fatos felizes de
nossas vidas.
Queremos estar bonitas e bem
quando pudermos, finalmente, gozar dos frutos do nosso trabalho. Não queremos
aquela imagem de uma pessoa de meia-idade (e já os sinais do tempo), que
finalmente viaja, anda com seu carro e vive em sua casa. O creme não serve para
parar o tempo, afinal, não sejamos insensatas, o tempo não pára, mas para nos
dar mais tempo de conjugar a beleza da nossa felicidade com a beleza do nosso
corpo.
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