terça-feira, 13 de novembro de 2012


É uma manhã ainda fresca e luminosa em Porto Alegre. O trem movimenta-se com seu ruído característico. Dentro do vagão, Há lugares vagos.
O banco para idosos, deficientes, gestantes, obesos, mulheres grávidas, azul, está vazio à frente de Luís. Ele tem um livro fechado sobre as pernas, mas ao se sentar, perdeu o interesse nas letras e observou o movimento tranquilo e rápido das paisagens urbanas e do Guaíba.
Ele só vai descer na penúltima estação e espera estar dentro da biblioteca, sob o abrigo do ar-condicionado, antes que o sol cumpra o que promete com seu brilho cegante.
Predominam as sandálias e rasteirinhas nos pés das mulheres, tênis nos dos homens. A maioria, com fones nos ouvidos e, ele, com o livro fechado sobre as pernas.
Um senhor entra e encontra o assento reservado a ele vazio. Senta-se, satisfeito com sua sorte, embora existam outros assentos vazios. Ele encara Luís e seu livro fechado.
Ele não tem um livro, não tem fones de ouvidos, nem sandálias, nem rasteirinhas, nem tênis: ele tem chinelos e uma mão fechada enfaixada.

Ele não tem tipoia, então deve ser um corte.
- Meu neto está lendo esse livro - diz o velho, assinalando o livro com o queixo.
Entre a surpresa e o inesperado da fala do velho, Luís assente.
- Estou no começo...
- Meu neto disse que é muito bom.
- É, eu sei.
- Por que não está lendo?
- Estou cansado - mente, Luís.
O velho não responde e Luís pensa que ele sabe que é mentira.
Se fosse bom, tu estarias lendo, pensa Luís.
- Eu não leio mais - o velho se escusa, - me dói a cabeça, mesmo com os óculos.
Ele suspira.
- Eu não acho que seja dos olhos, acho que a cabeça dói de cansaço. Ando muito cansado. Mas tu é jovem e é cedo para estar cansado.
- Prefiro ver o trem passar...
- Ah, - faz o velho com um estalar da língua - a vida vai sempre passar. Não se preocupe, Tu não precisa ver ela passar.
Dessa vez, Luís, realmente, não soube o quê dizer. O velho ficou quieto, ensimesmado.
Três paradas depois, o velho desceu, mas, antes, acenou com a cabeça para Luís, como cumprimento e, talvez, Luís tenha aberto o livro.

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