Uma manhã qualquer, numa capital
qualquer desse país, duas pessoas encontram-se. Esse encontro é inédito, porque
irá definir não só duas vidas, mas as vidas de outras pessoas que sequer
imaginam a existência desses dois. Como várias coisas na vida, nós achamos que
jogamos sozinhos, nós achamos que vivemos e agimos sozinhos, porém de verdade,
nós só nascemos e morremos sozinhos.
Um café qualquer, numa rua movimentada
qualquer dessa capital. Pessoas ocupadas, sonolentas ou que apenas precisam
passar o tempo. Menos essas duas pessoas. Elas estão fazendo tudo isso ao mesmo
tempo, só que diferente de todos os outros: estão ocupadas uma com a outra, estão
passando o tempo uma com a outra, estão entorpecidas pela presença uma da outra.
O barulho, as pessoas ocupadas, sonolentas, sugadas pela rotina não existem. O garçom
existiu apenas no tempo suficiente empregado em ouvir os pedidos e trazê-los. Logo
depois, nem mesmo os cafés – um expresso duplo e um capuccino – pareceram importante:
esfriarão, desprezados, esquecidos, mesmo que o cheiro lembre as suas existências
e tenha perpassado e inebriado esse encontro.
Olhos nos olhos. Sorrisos discretos,
acanhados.
As mãos postas desajeitadamente em cima
da mesa, ladeando pires com os cafés que esfriam.
Silêncios significantes, pausas
constantes... Hesitantes seus avanços e inconstantes seus corações.
O sorriso se avoluma; gargalhadas
mal-contidas... Os sorrisos agora se atropelam e culminam em gargalhadas. As
mãos se esbarram e eles se encaram. Olhos nos olhos excitados. Dados. Beijo
barrado. De repente, a mesa se torna uma matéria existente, mas não como uma
extensão e sim como obstáculo. Uma conclusão:
Os cafés estão frios. Embaraço. Um riso
baixo, contido, cúmplice. O garçom é chamado, a conta paga, os cafés
abandonados e eles partem.
Andam, se amam.
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