sábado, 13 de abril de 2013

Uma manhã qualquer, uma cidade qualquer, duas pessoas e um encontro


Uma manhã qualquer, numa capital qualquer desse país, duas pessoas encontram-se. Esse encontro é inédito, porque irá definir não só duas vidas, mas as vidas de outras pessoas que sequer imaginam a existência desses dois. Como várias coisas na vida, nós achamos que jogamos sozinhos, nós achamos que vivemos e agimos sozinhos, porém de verdade, nós só nascemos e morremos sozinhos.
Um café qualquer, numa rua movimentada qualquer dessa capital. Pessoas ocupadas, sonolentas ou que apenas precisam passar o tempo. Menos essas duas pessoas. Elas estão fazendo tudo isso ao mesmo tempo, só que diferente de todos os outros: estão ocupadas uma com a outra, estão passando o tempo uma com a outra, estão entorpecidas pela presença uma da outra. O barulho, as pessoas ocupadas, sonolentas, sugadas pela rotina não existem. O garçom existiu apenas no tempo suficiente empregado em ouvir os pedidos e trazê-los. Logo depois, nem mesmo os cafés – um expresso duplo e um capuccino – pareceram importante: esfriarão, desprezados, esquecidos, mesmo que o cheiro lembre as suas existências e tenha perpassado e inebriado esse encontro.
Olhos nos olhos. Sorrisos discretos, acanhados.

As mãos postas desajeitadamente em cima da mesa, ladeando pires com os cafés que esfriam.
Silêncios significantes, pausas constantes... Hesitantes seus avanços e inconstantes seus corações.
O sorriso se avoluma; gargalhadas mal-contidas... Os sorrisos agora se atropelam e culminam em gargalhadas. As mãos se esbarram e eles se encaram. Olhos nos olhos excitados. Dados. Beijo barrado. De repente, a mesa se torna uma matéria existente, mas não como uma extensão e sim como obstáculo. Uma conclusão:
Os cafés estão frios. Embaraço. Um riso baixo, contido, cúmplice. O garçom é chamado, a conta paga, os cafés abandonados e eles partem.
Andam, se amam.

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